segunda-feira, 12 de março de 2012

Descobertos *

*queria ficar assim o resto do tempo*


O que aconteceu hoje (...) nunca será esquecido. Hoje eu e o meu amor fazíamos uma semana. Uma história mais complicada que a maioria. Talvez um dia eu conte tudo o que ele teve de passar para chegar até aqui (...) mas não agora. Vou só falar do que aconteceu hoje, mas pra isso tenho de voltar atrás. Nasci e cresci numa religião (...) que não permite namoros com pessoas de diferentes religiões, nem namoros até aos 17 anos (...) A minha mãe foi a primeira a entrar e depois segui-se o meu pai e os meus 3 irmãos. Mas ele saiu, pois nesta religião não se devia fumar e ele não conseguiu parar. Os meus irmãos seguiram o exemplo dele, não pela mesma razão. A minha mãe manteve-se, sozinha. Até que eu nasci e comecei a ser a nova companhia dela. Passei a ir eu com ela às reuniões (é o que se chama ao que fazemos todas as semanas). Ela criou expectativas quanto a mim, achou que eu ia ser a que ia lá ficar com ela, que ia fazê-la orgulhar-se de mim. Quando era pequenina e ainda estava na Meda, adorava lá ir. Sentia-me acolhida, sentia-me bem a participar nas reuniões, adorava quando diziam: "comentas-te muito bem" ou "tão atenta, tão bem comportadinha" . E eu achava que o meu lugar era ali (...) Mas depois mudei-me para Trancoso. Não me senti integrada na congregação de cá (...) comecei a perder o gosto pelas reuniões, por tudo o que eu adorava. Comecei a ir contra tudo o que tinha aprendido lá e de vez em quando sentia-me mal, tinha a consciência pesada. Gostava em especial de duas pessoas da congregação de cá (...) Uma delas morreu recentemente, o que me custou muito, o que eu não demonstrei. (Foi também no funeral dessa senhora que vi a minha mãe a chorar a sério, o que me custou muito pois a minha mãe é a pessoa sem a qual eu não vivo, a pessoa com quem eu tenho uma ligação MUITO forte, em especial por causa de estarmos as duas juntas nas reuniões. Costumava encostar-me muito ao seu ombro e ela abraçar-se a mim e ficarmos assim até ao fim da reunião (...) Já não me sentia bem a ir às reuniões, senti que estava a enganar toda a gente, que estava a ter dupla personalidade. E dei a entender à minha mãe que queria sair. Ela disse: "enquanto tiveres debaixo do meu teto fazes o que eu mandar" . Via a dor nos seus olhos, não falou comigo durante dois dias (o que é muito para ambas). Sentia que a tinha desiludido. Fiz um esforço para continuar, tudo para não a magoar mais ainda.) A outra era funcionária na minha escola. Vamos chamar-lhe Maria (nome fictício). Estava muito com um rapaz, que na altura era só um amigo. E foi aí que ela me começou a controlar, e a chamar-me à atenção. Isso veio estragar a amizade que nós duas tínhamos, criou-se um mau ambiente entre nós. Entretanto, havia a pressão de eu começar a melhorar mais na religião, dar mais passos. Todas as reuniões falavam comigo sobre isso, e eu dizia que ia pensar no assunto e que lá se via mais pra frente. Mas custava-me, pois na realidade eu pensava: "quero lá saber disto, eu só quero sair daqui e poder voltar pra casa longe disto". Dor que se acumulava dentro de mim. E lá ia eu fazendo o que era contra tudo o que eu tinha aprendido em pequena e valorizava. Eu e o tal rapaz começámos a namorar. Tínhamos de ter cuidado para ela não nos ver (...) mas já sabíamos que mais cedo ou mais tarde ela iria descobrir *até porque em todas as escolas há aquelas "senhoras mais velhas" que gostam muito de falar da vida dos outros e tramá-los*. Estávamos os dois cá fora, nas bancadas, ao sol. Nas nossa brincadeiras. E um pouco mais afastadas estavam duas amigas minhas. Nós beijávamo-nos e ele acabava os beijos bem mais depressa do que o costume (...) e dizia: "tenho medo, ela pode aparecer a qualquer momento". (Já antes ele me tinha dito que gostava de arriscar, e que isto até tinha a sua piada, mas que tinhamos de ter cuidado pois ele preferia ter esses momentos poucas vezes do que ficar sem mim de vez.) E eu nem quis ligar, apenas disse: "óh, eu sei, mas agora não me quero preocupar com isso". Beijámo-nos. Passado uns minutos, voltámo-nos a beijar e logo no inicio do beijo ouvimos as minhas duas amigas: "A D.MARIA!". Era o pior que podia ter acontecido. O meu coração quase parou, eu não sabia o que fazer. No inicio, achei que estivessem a gozar, mas quando olhei para elas e vi que era a sério fiquei em choque (...) só queria um buraco pa me esconder. Ficámos os dois super nervosos e então (...) ela chamou: "Diana, anda cá". Depois de uma longa conversa onde ela me fez sentir culpada, onde disse que eu estava a ter dupla personalidade, onde me relembrou o quanto a minha mãe iria sofrer se soubesse disto e o quanto ela já estava a sofrer, pois "gosta de mim como se fosse um filho". *escusado é dizer que eu chorei, pois eu sou muito sensivel e choro logo que me apercebo de que magoei alguém muito importante para mim, especialmente tratando-se da minha mãe, mesmo ela não sabendo (por enquanto)* Ela acabou por dizer: " se tu fizeres um esforço, se te afastares dele e te concentrares mesmo no que é realmente importante, se eu vir mesmo melhorias da tua parte, este assunto morre aqui e eu não digo nada à tua mãe. Tu não precisas de estar ao pé destas pessoas, podes ir dar uma volta por ai ou até ir ao pé de mim e lermos alguma publicação (da nossa religião)". Foi-se embora, lá fiquei eu, sentei-me. O meu namorado foi logo ter comigo, mas eu disse que era melhor não estarmos juntos naquele momento. A minha melhor amiga chamou-me, deu-me um abraço, falou comigo. E logo de seguida apareceu uma amiga igualmente importante. E depois outra. Toda a gente tinha assistido àquela cena. *Aquela zona costuma ter muita gente àquela hora* Estava toda a gente a olhar para nós quando estávamos a falar, tinham cara do género: "coitada, está feita". Uma das maiores vergonhas da minha vida. Ainda houve um rapaz (que por acaso não é meu amigo) que disse: "óh D.Maria não se meta" (ou algo assim). Mais choro a partir daí. E agora estou meia indecisa de como vai ser daqui para a frente. Eu estou farta de ter de fingir. Mas a última coisa que quero fazer é magoar a minha mãe. Sinto-me uma pessoa horrível, não quero magoar ninguém, mas a verdade é que a pessoa que está a sair mais magoada desta história sou eu. Coisa complicada, mas há-de passar espero. Pelo menos deixar de doer, porque fará sempre parte das minhas memórias.

5 comentários:

  1. Dianinha, eu já falei contigo! Eu sei que isto te custa mas eu tenho a certeza que vais conseguir ultrapassar isto tudo! Eu acredito em mim , e sabes que podes contar como o meu apoio <3

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  2. Obrigada mais uma vez :)

    Quanto a este texto, a única coisa que posso dizer é para teres muita força!!
    ***

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  3. Isso é muito complicado de lidar... a família é importante mas devemos seguir o nosso coração.

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    1. Pois, isso é verdade. Mas é um pouco mais complicado do que isso.
      Já agora, obrigada pelo comentário e por ler o blog (:

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